quarta-feira, 26 de maio de 2010

APÓS O ANOITECER

Um trecho:

Uma_Noite_Na_Cidade

Estamos vendo a imagem da cidade.

       Ela é captada pelo olhar de um pássaro notívago a sobrevoar bem alto no céu. A cidade, em perspectiva, é um ser vivo gigante; um aglomerado de vidas que se entrelaçam. Inúmeros vasos sanguíneos estendem-se às mais recônditas extremidades do corpo, circulando o sangue e substituindo células, ininterruptamente… Esse corpo, ritmado pela pulsação, emite por toda parte pequenos lampejos de luz, produz calor e se move discretamente. À meia-noite se aproxima e, apesar de o horário de pico já ter passado, o metabolismo basal –para a manutenção da vida– continua, sem sinais de desaceleração. O gemido da cidade soa como uma melodia em baixo contínuo. Um gemido monótono e constante que incuba a percepção do porvir.

      O nosso olhar escolhe um local com alta concentração de luzes e ajusta o foco. Lenta e silenciosamente descemos nessa direção. Mergulhamos num mar de luzes neon multicoloridas. Um local movimentado, conhecido, como uma área de diversão… Nesse horário, a cidade tem seus próprios princípios…

       (…) Estamos no Denny´s (…) Aqui dentro, todas as coisas são de anônimos e podem ser substituídas… Após observarmos todo o interior do estabelecimento nossos olhos fixam-se numa garota sentada ao lado da janela. Por que ela? Por que não outra pessoa? Não saberíamos responder. Mas o fato é que essa garota  –não se sabe por quê– atraiu o nosso olhar, de um modo extremamente espontâneo…

HARUKI MURAKAMI

TERROR NAZISTA

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Porque o sadomasoquismo nunca deveria sair de moda.

O ASSASSINO DENTRO DE MIM

Jim Thompson sempre teve uma obra impactante e cheia de nuances. A ambientação deste filme promete ser fiel à ambigüidade e à amoralidade que sempre marcaram os seus livros. Os personagens de Thompson sempre me chamaram a atenção por serem crueis e patéticos e violentos e tristes e ambiciosos e inteligentes e estúpidos. Quero dizer, humanos. Acima de tudo, reais como apenas personagens bem escritos conseguem ser. Enfim, promessa de ótimo filme à vista. Oba.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Código de Condutas dos Piratas

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1.Todo homem tem direito a voto nos assuntos do momento; tem igual direito a provisões frescas ou bebidas fortes, asseguradas a qualquer tempo, e de usá-las à vontade, a menos que a escassez torne necessário para o bem de todos votar por um racionamento.

2. Todo homem tem o direito de ser convocado, segundo a Lista, ao Conselho dos Prêmios, porque (sobre e acima da sua devida parte) nestas ocasiões tem direito a uma muda de roupa; mas, se lesar a Companhia no valor de um dólar, em prataria, jóias ou dinheiro, sua punição será o desterro.

[Este era o costume bárbaro de colocar o infrator numa praia, em algum cabo ou ilha desolado ou desabitado, com uma arma de fogo, alguma munição, uma garrafa de água e uma garrafa de pólvora, para com isso sobreviver ou morrer de fome. Se o objeto roubado fosse de um dos membros da tripulação, eles se contentariam em cortar as orelhas e o nariz do culpado e jogá-lo na praia - não em um lugar desabitado, mas em algum lugar onde certamente ele encontraria dificuldades]

3. Ninguém deve jogar cartas ou dados por dinheiro.

4. As luzes devem ser apagadas às oito horas da noite. Se algum membro da tripulação, após essa hora, ainda permanecer inclinado a beber, deverá fazê-lo no convés.
[Roberts acreditava que assim reprimiria o vício, pois ele próprio não bebia, mas por fim descobriu que todos os seus esforços eram inúteis]

5. Os tripulantes devem manter suas armas de fogo e alfanjes limpos e prontos para o serviço.

6. Não é permitida entre a tripulação a presença de nenhum menino ou mulher. Se algum homem for descoberto seduzindo alguma mulher e a levar para o mar, disfarçada, será punido com a morte.

7. Quem desertar o navio ou se recolher aos seus aposentos durante uma batalha será punido com a morte ou com o desterro.

8. Nenhum homem deve agredir outro a bordo, e toda disputa, quando as partes não chegarem a uma reconciliação, deve terminar num duelo na praia, com a espada e a pistola: o contramestre do navio os acompanhará até a praia com a assistência que julgar adequada, e colocará os querelantes costa com costa, e depois os fará dar alguns passos. À voz de comando, eles se voltarão e atirarão imediatamente. Se ambos errarem, recorrerão a seus alfanjes, e então será vitorioso aquele que arrancar do outro a primeira gota de sangue.

9. Nenhum homem pode falar em mudar seu modo de vida até juntar mil libras. Se, para conseguir essa quantia, perder um membro ou ficar inválido, ganhará oitocentos dólares do cofre comum, e menos que isso, proporcionalmente, no caso de ferimentos menores.

10. O capitão e o contramestre recebem duas partes do prêmio; o imediato, o mestre e o homem de armas, uma parte e meia; os outros oficiais, uma parte e um quarto.

11. Os músicos devem descansar no sábado, mas nos outros seis dias e noites descansam apenas se receberem autorização especial.

Segundo o capitão  Bartholomew roberts

+ no livros e afins.

Quase Nada 072

+ no 10 pãezinhos.

FRASES DE FILMES: INIMIGOS PÚBLICOS

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Muitas pessoas se preocupam de onde as pessoas vêm, e só o que importa é para onde as pessoas vão. E para onde eu vou? Para onde eu quiser!

SEPARAÇÃO

400

De Um Sábado Qualquer.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

 

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“Perdoe seus inimigos, mas nunca esqueça de seus nomes.”

Thomas A. Kempis

sexta-feira, 7 de maio de 2010

nolan. subconsciente. crime.

PORNOPOPEIA

Reinaldo Moraes

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Vai, senta o rabo sujo nessa porra de cadeira giratória emperrada e trabalha, trabalha, fiadaputa. Taí o computinha zumbindo na sua frente. Vai, mano, põe na tua cabeça ferrada duma vez por todas: roteiro de vídeo institucional. Não é cinema, não é epopéia, não é arte. É — repita comigo —vídeo institucional. Pra ganhar o pão, babaca. E o pó. E a breja. E a brenfa. É cine-sabujice empresarial mesmo, e tá acabado. Cê tá careca de fazer essas merdas. Então, faz, e não enche o saco. Porra, tu roda até pornô de quinta pro Silas, aquele escroto do caralho, vai ter agora “bloqueio criativo” por causa dum institucionalzinho de merda? Faça-me o favor.

Ok, chega de papo. É só dirigir a porra da tua mente pra nova linha de embutidos de frango da Granja Itaquerambu. Podia ser qualquer outro tema, os cristais de Maurício de Nassau, a cavalgada das Valquírias, a vingança dos baobás contra o Pequeno Príncipe. Que diferença faz? Pensa que são os embutidos de frango do Nassau, a cavalgada das mortadelas, a vingança dos salsichões contra o Pequeno Salame. Pensa no target do vídeo: seres humanos a quem coube o karma nesta encarnação de vender no atacado os produtos da Itaquerambu. Pensa no evento em que o teu vídeo vai passar — vários eventos, aliás, todos no mesmo dia em todas as filiais do Brasil. Os seres humanos vendedores de embutidos verão teu vídeo e serão apresentados ao salsichão, ao salame e até à mortadela de frango, heresias saudáveis em matéria de junkyfood que a Itaquerambu vai lançar no mercado. Mesmo a tradicional salsicha e a insuperável lingüiça de frango vão ser relançadas com outra formulação, segundo eles dizem. Quer dizer, em vez do jornal reciclado de praxe, os putos vão adicionar algum tipo de pasta de lixo orgânico pasteurizado na mistura, imagino, mais uma contribuição da Itaquerambu para um planeta sustentável.

Porra, mas eu sou cineasta, caralho. Artista. Não nasci pra rodar vídeo institucional. E de embutidos de frango, inda por cima, caceta!

Calma, calma. Pensa que o teu vídeo será visto “de Passo Fundo a Quixeramobim, do Rio de Janeiro a Corumbá”, como disse o Zuba, ao sentir minha reação pouco eufórica diante do tema. “E capricha na linguagem brasileira universal, tá?”, foi o que ele me pediu, como se linguagem brasileira universal fosse uma das opções do Final Draft ou do Magic Screen Writer. Você clica em LBU e seu texto será entendido nos pampas, serrados, praias, selvas, semi-áridos e caatingas do país, sem contar os aglomerados urbanos e seus múltiplos guetos. Teu único filme de cinema até agora, por exemplo, nunca passou em tantos lugares ao mesmo tempo. Na caatinga, por exemplo, nunca foi visto. Não que se saiba.

Volto a perguntar: qual a diferença entre arte e embutidos de frango? Ou melhor: por que embutidos de frango não podem se transformar em arte?

Mas não precisa pensar nisso agora, nem em merda nenhuma que não seja frango embutido. Faz logo essa porra, porra. É bico: oito minutos de duração, um curta-metragem. Não vai matar o artista que há em você, amice. Ou havia. Ou nunca houve nem haverá. Foda-se.

É isso aí: vídeo institucional, embutidos de frango, Granja Itaquerambu. Beleza.

O que fode é o prazo. Sempre a porra do prazo. Tá ligado que esse roteiro tem que estar escrito, aprovado, rodado, entregue em mídia DVCAM, e exibido pros vendedores até 15 dias antes do lançamento da campanha na mídia? Ou seja, daqui a nove dias. Você devia ter chamado um bosta dum roteirista qualquer pra te ajudar, desses que filam cigarro e cerveja de mesa em mesa na Merça e não perdem chance de puxar uma lousa e dar aula sobre Hal Hartley e a narrativa cinematográfica interior aos substratos descontínuos da consciência dos personagens pra alguma gostosinha basbaque de peitinhos soltos dentro de uma camiseta de pano fino. Conheço vários roteiristas desse naipe. Dúzias deles, na verdade. Tudo uma corja de bebum cafungueiro desempregado du caraio. Por uma peteca de pó e duas Original você contrata na hora um deles. Se calhar, o infeliz ainda leva teu carro no mecânico pra trocar a fricção e te faz o obséquio de encarar uma fila de banco pra pagar tuas contas atrasadas.

Bullshit. Não preciso, nunca precisei de roteirista nenhum. Merda por merda, deixa que eu mesmo chuto. Só que dessa vez travei geral. E o cara da Itaquerambu tá no pé do Zuba, que tá no meu pé, que tô em pé de guerra com os embutidos de frango. Ridículo, isso. Fala sério: nem uma réles ideiazinha pro vídeo pintou ainda na tua cabeça, meu filho. Nem a porra duma idéia de merda.

Pois é, nem a idéia.

Tá foda.

Embutidos de frango.

Foda.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

uma frase, um filme de scorsese

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Mais vale morrer como um homem bom, que viver como um monstro.

Shutter Island

Inception

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Sinopse enfim revelada: Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um habilidoso ladrão, o melhor na perigosa arte da extração, o roubo de segredos valiosos das profundezas do inconsciente durante o sono com sonhos, quando a mente está mais vulnerável. A rara habilidade de Cobb o tornou peça fundamental no traiçoeiro mundo da espionagem industrial, mas também o tornou um fugitivo internacional e ele perdeu tudo o que mais amava. Agora, Cobb tem sua chance de redenção, um último trabalho que pode dar-lhe sua vida de volta se ele conseguir o impossível - inserção. Ao invés do roubo perfeito, Cobb e sua equipe de especialistas têm que obter o inverso: sua tarefa não é roubar uma ideia, mas plantar uma. Se eles conseguirem, terão o crime perfeito. Mas nem todo seu planejamento poderia prepará-los para um perigoso inimigo que parece prever cada movimento da equipe. Um inimigo que apenas Codd consegue enfrentar.

O ASSASSINO DENTRO DE MIM

Do livro de Jim Thompson.

lutador, detetive, instigante

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Charles Burns.

terça-feira, 4 de maio de 2010

OS DEMÕNIOS DE KEN RUSSEL

Ken Russell deita e rola nesta adaptação da obra de Aldous Huxley (outro louco fantástico), misturando exorcismos, nudez, blasfêmia, mostrando a igreja em sua época mais autoritária e Oliver Reed no auge. Obra imperdível de um dos mais instigantes cineastas a gravar suas impressões em celuloide.

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Para baixar, clique na imagem.

Hobo with a Shotgun

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DA CABEÇA DE ROB ZOMBIE

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domingo, 2 de maio de 2010

Hitler in hell

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A Pequena Fada

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A pequena fada disse:

- Chega!

A pequena fada derrubou o seu amo  e desapareceu no ar como uma névoa que se dissipa ao amanhecer de um dia quente e sem nuvens.

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Nosso destino nunca é um novo lugar, senão uma nova forma de ver as coisas.

Henry Miller

Para ler antes de dormir

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A manhã seguinte


Despertamos. O sol resplandecia escasso
Através das frestas estreitas da persiana cinza
Você bocejou profundamente. E confesso sinceramente:
Não soou bem. – Para mim está claro agora,
Os casais não ardem sempre de paixão
Estava deitada na cama. Você se olhava no espelho
Absorto em fazer a barba discreto.
Pegava a escova e o tubo de creme
Eu lhe observava em silêncio. Você carregava o emblema
Do marido tal como está nos livros.
Como de repente tantas coisas me incomodam!
O quarto, você, o buquê de flores murchando
Os copos que esvaziamos ontem à noite
O resto de geléia que comemos
... Tudo isso de manhã parece outra coisa.
No café-da-manhã você se cala (dedicando-se aos pãezinhos.)
É higiênico, mas não belo.
Vi a geléia de frutas nos seus lábios
E lhe vi encharcar pão com manteiga no café
E algo assim eu não suporto ver nem morta!
Vesti-me. Você examinou minhas pernas.
Cheirava a café tomado havia muito tempo.
Fui até a porta. Meu expediente começava às nove.
Muitas coisas me passavam pela cabeça. – Disse apenas uma:
(Então, já está mais do que na hora! Eu já vou...)

Mascha Kaléko

sábado, 1 de maio de 2010

Tatuada

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Ela virou-se para mim, despida e, no entanto, coberta de um modo que me fez querer ver cada centímetro de sua maravilhosa pele.

JENN VIOLETTA

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Relógio Kubrikiano

relogio cuckoo o iluminado

O Iluminado.

Rabiscado em uma mesa de bar


Não estou acostumada a longas esperas
Sempre deixei os outros esperarem por mim
Agora estou aqui em meio a xícaras vazias de café
E me pergunto se tudo isso vale a pena.

É tão diferente dos dias antigos
         Nós dois percebemos mudos: é o que resta.
Não indague desta forma. —Pode-se dizer muita coisa
O que no fundo não tem palavras.

Meio dia e meia. Tão tarde! Os fregueses são parcos
Guardo o meu otimismo
Nesta cidade com quatro milhões de almas
Parece ser uma única alma rara demais.

Mascha Kaléko

Quase Nada 068

Fábio Moon e Gabriel Bá.

Fim da 2ª Guerra. Berlim.

523

“Dead men will have indeed died in vain if live men refuse to look at them.” Revista Life.

Noir Perverso

chinatown

Chinatown.