domingo, 7 de janeiro de 2024

O Homem Duplo, de Philip K. Dick

Leia trecho do livro

Capítulo 1A Scanner Darkly-gr

Certa vez, um sujeito passou o dia todo sacudindo insetos do cabelo. O médico disse a ela que não havia insetos em seu cabelo. Depois de tomar um banho de oito horas, parado interminavelmente sob a água quente, sofrendo a dor dos insetos, ele saiu e se secou e ainda havia insetos no cabelo; na verdade, havia insetos em todo o corpo. Um mês depois, ele tinha insetos nos pulmões.
Sem nada mais a fazer ou pensar, ele começou a tentar entender o ciclo vital dos insetos e, com a ajuda da Britannica, identificar especificamente aqueles insetos. Agora eles enchiam a casa. Ele leu muito sobre tipos diferentes e por fim percebeu insetos do lado de fora, então concluiu que eram afídios. Depois que lhe ocorreu, essa conclusão não mudou, independentemente do que os outros lhe dissessem, como: "Os afídios não picam as pessoas."
Eles diziam isso porque as picadas intermináveis dos insetos o atormentavam continuamente. Na loja 7-11, de uma cadeia espalhada pela maior parte da Califórnia, ele comprou latas de spray de Raid, Black Flag e Yard Guard. Primeiro ele borrifou a casa, depois a si mesmo. O Yard Guard pareceu funcionar melhor.
No aspecto teórico, ele percebeu três estágios no ciclo dos insetos. Primeiro, eles apareciam e o contaminavam por intermédio do que ele chamava de "gente-correio", que eram pessoas que não entendiam seu papel na distribuição dos insetos. Durante essa fase, os insetos não tinham maxilar nem mandíbula (ele aprendeu essa palavra durante as semanas de pesquisa acadêmica, uma ocupação incomumente livresca para um cara que trabalhava na Handy Brake and Tire realinhando os tambores de freios dos outros). A gente-correio, portanto, nada sentia. Ele costumava se sentar no canto mais distante da sala de estar para observar diferentes pessoas-correio entrarem - a maioria delas ele conhecia havia algum tempo, mas algumas eram novas para ele - cobertas de afídios na fase específica em que não picavam. Ele meio que sorria para si mesmo, porque sabia que a pessoa estava sendo usadas pelos insetos e não se desesperava com isso.
- Do que está rindo, Jerry? - diziam elas.
Ele se limitava a rir.
Na fase seguinte, os insetos desenvolviam asas ou coisa parecida, mas na verdade não eram exatamente asas; de qualquer modo, eram uma espécie de apêdice funcional que lhes permitia enxamear e era assim que migravam e se disseminavam - em especial para ele. A essa altura o ar ficava cheio deles; deixavam a sala de estar e toda a casa nevoentas. Nessa fase, ele procurava não os inalar.
Acima de tudo, ele lamentava pelo cachorro, porque podia ver os insetos pousando e se fixando em todo o corpo e provavelmente entrando nos pulmões do cão, como entraram no dele próprio. Provavelmente - pelo menos lhe disse sua capacidade de ter empatia - o cachorro estava sofrendo tanto quanto ele. Será que devia expulsar o cão para ter conforto? Não, decidiu; agora o cachorro estava infestado sem querer e carregaria os insetos com ele por toda parte.
Às vezes, ele ficava debaixo do chuveiro com o cão, tentando limpar o cachorro também. Não tinha mais sucesso com ele do que consigo mesmo. Doía sentir o cão sofrer; ele nunca deixou de tentar ajudá-lo. De certa forma, essa era a pior parte, o sofrimento do animal, que não podia reclamar.
- Que merda você está fazendo o dia todo no chuveiro com a droga do cachorro? - perguntou seu amigo Charles Freck certa vez, aparecendo durante o banho.
Jerry disse:
- Tenho de tirar os afídios dele. - Ele tirou Max, o cachorro, do chuveiro e começou a secá-lo. Charles Freck observava, aturdido, enquanto Jerry esfregava óleo de bebê e talco no pêlo do cão. Por toda a casa, latas de spray inseticida, frascos de talco, óleo e condicionadores para bebê estavam empilhados e jogados, a maioria vazia; ele agora usava muitas latas por dia.
- Não estou vendo afídio nenhum - disse Charles. - Aliás, o que é um afídio?
- Um dia ele te mata - disse Jerry. - Assim é um afídio. Eles estão no meu cabelo, na minha pele e nos meus pulmões e a maldita dor é insuportável... vou ter de ir para o hospital.
- Como é que eu não consigo vê-los?
Jerry baixou o cão, que estava enrolado numa toalha, e se ajoelhou no tapete puído.
- Vou te mostrar um - disse ele. O tapete estava coberto de afídios; eles saltavam por toda parte, para cima e para baixo, alguns mais alto que os outros. Ele procurou por um especialmente grande, devido à dificuldade que as pessoas tinham de vê-los. - Traga uma garrafa ou um vidro - disse ele -, procure embaixo da pia. Vamos cobrir um ou colocar uma tampa nele e depois posso levá-lo comigo quando for ao médico e ele vai poder analisá-lo.
Charles Freck lhe trouxe um vidro de maionese. Jerry começou a busca e por fim conseguiu interceptar um afídio que pulou no ar pelo menos 120 centímetros. O afídio tinha três centímetros de comprimento. Ele o apanhou, levou-o para o vidro, largou-o cuidadosamente dentro dele e atarraxou a tampa. Depois ergueu o vidro, triunfante.
- Está vendo? - disse ele.
- Ééééééé - disse Charles Freck, os olhos arregalados enquanto analisava o conteúdo do vidro. - Que grandão! Uau!
- Me ajude a encontrar mais para o médico poder ver - disse Jerry, novamente se agachando no tapete, o vidro ao lado dele.
- Claro - disse Charles Freck e obedeceu.
Meia hora depois, eles tinham três vidros cheios dos insetos. Charles, embora novo no assunto, encontrou alguns dos maiores.
Era meio-dia, em junho de 1994. Na Califórnia, em uma região de casas de plástico baratas, mas duráveis, havia muito desocupadas pelos caretas. Mas Jerry, anteriormente, tinha borrifado tinta metálica em todas as janelas para evitar a luz; a iluminação da sala vinha de uma luminária em que só atarraxara lâmpadas de luz dirigida, que brilhavam dia e noite, de forma a abolir o tempo para ele e os amigos. Ele gostava disso; gostava de se livrar do tempo. Deste modo, podia se concentrar em coisas importantes, sem ser interrompido. Como isto: dois homens ajoelhados em um tapete velho, encontrando um inseto após o outro e colocando-os em vidro após vidro.
- O que vamos conseguir com isso? - disse Charles Freck, mais tarde. - Quer dizer, será que o médico vai pagar uma recompensa ou coisa assim? Um prêmio? Uma grana?
- Tenho que ajudar a aperfeiçoar uma cura para eles desse jeito - disse Jerry. A dor, constante, tornara-se insuportável, ele não conseguia se acostumar com ela e sabia que nunca se acostumaria. O impulso ou anseio de tomar outro banho o subjugava. - Ei, cara - ele arfou, endireitando-se - vai colocando os insetos no vidro enquanto eu tomo um banho. - Ele partiu para o banheiro.
- Tudo bem - disse Charles, as pernas compridas cambaleando enquanto gingava para um vidro, as mãos em concha. Era um ex-veterano e ainda tinha um bom controle muscular, porém; ele conseguiu pegar o vidro. Mas depois disse de repente: - Olha, Jerry... esses insetos meio que me assustaram. Não gosto de ficar sozinho com eles. - Ele se levantou.
- Seu cretino covarde - disse Jerry, arfando de dor enquanto hesitava no banheiro por um momento.
- Será que você podia...
- Tenho de tomar um banho! - Ele bateu a porta e girou as torneiras do chuveiro. A água jorrou.
- Estou com medo. - A voz de Charles Freck chegou fraca, embora ele evidentemente estivesse gritando.
- Então vai se foder! - respondeu Jerry aos gritos e entrou no chuveiro. Que porra de amigos são esses?, perguntou-se amargamente. Nada bom, nada bom! Não é nada bom mesmo.
- Essas merdas não picam? - gritou Charles, bem junto à porta.
- É, eles picam - disse Jerry enquanto passava xampu no cabelo.
- Foi o que pensei. - Uma pausa. - Posso lavar minhas mãos, me livrar deles e esperar por você?
Covarde, pensou Jerry com uma fúria amargurada. Ele não disse nada, apenas continuou seu banho. O cretino não valia resposta alguma. Ele não deu atenção a Charles Freck, só a si mesmo. A suas necessidades vitais, exigentes, terríveis e urgentes. Todo o resto teria de esperar. Não havia tempo, tempo nenhum, essas coisas não podiam ser adiadas. Todo o resto era secundário. A não ser o cachorro; ele se perguntou sobre Max, o cão.

love and rockets

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quinta-feira, 22 de junho de 2023

PRIMEIRO SANGUE

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Coronel Samuel Trautman: Acabou Johnny. Acabou.

Rambo: Nada acabou senhor, nada. Não se consegue parar. A guerra não era minha. Você me chamou, eu não pedi pra ir. Fiz o que tinha que fazer , mas não deixaram a gente ganhar.

Eu volto para o mundo é vejo aqueles idiotas no aeroporto, protestando e me chamando de assassino de bebes e todo tipo de besteira. Quem são eles para protestarem contra mim? Quem são eles? Se tivessem na minha pele, pelo menos saberiam porque estavam gritando.

Coronel Samuel Trautman: Foi uma época ruim, Rambo. Pertence ao passado agora.

Rambo: Para você. Para mim a vida civil não é nada. No campo temos um código de honra. Você cuida de mim, eu cuido de você. Aqui não tem nada.

Coronel Samuel Trautman: Você é o último de um grupo de elite. Não acabe com tudo assim.

Rambo: Na guerra eu pilotava avião, dirigia tanques e usava equipamentos de milhões. Aqui eu não arrumo emprego nem como manobrista.

O que é isso? Jesus! Meu Deus! Onde está todo mundo. Os caras. Eles eram meus amigos. Eu gostava deles. Eu tinha amigos. Aqui eu não tenho nada.

Lembra da nossa equipe no Vietnã? Eu peguei uma daquelas coisas mágicas é disse: “Joey,achei”. E eu a envie para Las Vegas. Falávamos sempre de Las Vegas e de um carro. Um Chevy 58, vermelho, ele sempre falava do carro. Ele dizia que íamos rodar até os pneus furarem.

Havia um celeiro e um garoto se aproximou. Ele estava com uma caixa de engraxate e perguntou: “Vai graxa aí? Por favor”. Eu disse: não. Ele perguntou de novo , e o Joey disse “sim”. Então eu fui buscar uma cerveja. Era uma armadilha, a caixa explodiu e espalhou o corpo dele por todo o lugar.

Ele ficou lá gritando feito um louco, e os pedaços dele estavam em cima de min. Eu tive que empurrá-lo. Meu amigo estava espalhado em cima de min, tinha sangue por todo lado e eu tentava mantê-lo vivo. Tentava juntar as partes dele, mas as tripas estavam saindo e ninguém podia ajudar.

Ele dizia: “Eu quero ir pra casa”. Ele ficava repetindo isso. “Eu quero ir para casa”. “Eu quero dirigir o meu Chevy”. Ninguém conseguiu encontrar as pernas dele. Eu não encontrei as pernas dele. Isso não sai da minha cabeça. Foi há mais de sete anos. E todos os dias eu penso nisso. Eu não converso com ninguém. Nenhum dia, nenhuma semana. Eu não tiro isso da minha cabeça.


há pulhas em demasia

'Em decorrência da fetidez que assola o país, só tenho vontade de escrever textos sórdidos, coléricos, cínicos, degradantes ou estufados de um humor cruel e até me permitiria sugerir ao caríssimo editor que bolasse uma maneira de a crônica ser fechada assim como certas revistas envelopam um pequeno mimo, uma tirinha de seda, um saquinho de perfume, e envelopariam minha crônica e colocariam sobre ela uma fitinha negra: 'censurado' ou 'só para cínicos', ou 'só para fazer sorrir os desesperados'. Ou quem sabe, à maneira de Hesse: 'só para raros'. Porque, convenhamos, há pulhas em demasia.'

~Hilda Hilst sobre suas crônicas que, imagino, cairiam muito bem nos dias que se passam em terras brasilis.

 Leia mais Hilda Hilst, é bom para a alma, acredite: aqui.

  


madelyne pryor

Madelyne Pryor, the Goblin Queen



domingo, 9 de abril de 2023

1963

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Por Alan Moore.

PARIS, TEXAS

5

(1) DESERT LANDSCAPE Exterior, Day
A fissured, empty, almost lunar landscape -- seen from a bird' s-eye view.
The camera hovers over it.
In the distance, a lone man appears; he is crossing this desert.
A hawk lands on a boulder.
The man stops, looks at the bird. Then he drinks the last drops of water from a large plastic bottle.
He is wearing a cheap Mexican suit, a red baseball cap and sandals with bandages wrapped around them. His clothes are covered with dust and soaked with sweat. He has been walking for a long time. This is Travis.
Travis throws away the empty plastic bottle, and continues on his way across the bleak, hot plains that lie before him.

 Paris, Texas, seqüência inicial, filme de Wim Wenders, roteiro de Sam Shepard.

Do Trechos de livros e afins.

HILARIANTE

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- You said Guatemala, man,not El Salvador. Come on, I've never beenout of the country. They kill people here, Boyle.

- You believe everything in the papers? You'll love it here. Give me the joint.This is my last chance, man.I'm serious. If I can get some good combatshots for AP, I can make some money. I could pay you back.

-Better pay me back.

-We'll head for La Libertad...the best surfing beachin the world.Good times, kick back for a fewmonths. It'll be fantastic.You could live in this country for bucks a year.

- What the fuck is this?

- Mace.

- Mace? For what?

- Wild dogs.

- Yeah, wild dogs? That's bullshit.You've lied to me straight through.

- Want me to be honest with you?

- What are you doing with all these?

- Here you could have a life.

- What are all these?

- They come in handy.

- You're gonna love it here, Doc.

- I'm going home, man.

- You can drive drunk...and get anybody killed for 10$ .

- I don't want to.
- The best pussy in the world.Where else can you get a virginto sit on your face for seven bucks? Seven bucks.

- It better be the best pussyin the world...or I'm going home.

- Two virgins for twelve.

- You're just lucky I'm fucked up,you know that?

- Drugs? No prescriptions. They gotstuff that keeps you hard all night. All these people want to do is fuck.

- Twelve bucks? I think we can get them down.

- Now you're talking.

- You're such an asshole, Boyle.

- You're gonna love this place.You're gonna be in pig heaven, man.

Salvador. Oliver Stone.

Do Grandes Planos. Clique na imagem.

APOCALIPSE MOBY

Perry Hall

Apocalypse-Moby

O começo:

Na abertura, uma versão vagamente irlandesa de The End, do The Doors, é executada, com bandolim, pífano, sanfona e bumbo. Ao fundo, acordes de guitarra meio sinistros.

FADE MUSIC

As pás de mogno do ventilador de teto giram lentamente. Ouvimos o som do vento batendo contra as velas de um barco — estamos em um barco a vela. Um close, de cabeça para baixo, enquadra o rosto de um jovem mal-barbeado deitado na cama. Seus olhos estão abertos, ele olha as pás do ventilador girando hipnoticamente.

HOMEM: Saigon. Merda. Chame-me Ishamel.

.


Não me culpem pelo aspecto sinistro.

MÚSICA PARA ABAFAR O FIM DO MUNDO

José Marcelo


Acabou assim. A luz piscava.
__ Eu quero.
__ Me mostra. Quero ver. Tira tudo.
__ Tá.
__ Agora abre. Devagar.
__ Gostou?
__ Claro. Gostei muito.
__ Mas não pode tocar.
__ Ah.
__ Não pode tocar. Foi o que combinamos. Sem toque.
__ Sem toque. Tá bom. Continua. Tira.
__ Vou tirar.
__ Poxa.
__ Tá gostando?
__ Olha como eu estou.
Ela sorri. Gosta de causar esse efeito. Dá para ver em seu olhar.
Lá fora, era o fim. O mundo se desfazia. Algo que era um vislumbre no canto do olho andava lá fora. De acordo com as profecias, era inevitável. Um quadro que escorria da tela.
Dentro do quarto, ele e ela. Olhando-se. Desejando.
__ Continue.
Começara a chover. Olhe: como a chuva escorre pela janela. Uma água escura com um odor forte. Ele fechou as cortinas. Ela ficou olhando-o  enquanto ele caminhava até a janela e voltava a sentar-se na cama.
__ Não pare. Por que você parou? Não pare.
__ Vem.
__ Você disse que eu não podia.
__ Eu quero que me toque. Quero sentir você me tocando.
Alguém gritou na rua. Parecia o lamento de uma banshe. Ele levantou-se e abraçou-a.
__ Eu queria que acabasse logo __ disse ela.
__ Não vai demorar.
O grito continuava.
Ele sentiu-a tremer e percebeu que também tremia.
__ Eu não sei seu nome __ disse ele.
__ Não, nem eu sei o seu. Quer saber? O meu nome?
__ Não, não quero. Vamos para a cama.
Mas o encanto se fora. Estava nos olhos dela. Na falta de jeito dele.
As pás de um helicóptero giravam ao longe. E música. Música pata abafar o fim do mundo, ele pensou.
Eles se deitaram e ele estava ciente da nudez e da respiração dela. Quase podia ouvir o coração. Ela abriu o zíper dele.
__ Quero que você goze na minha boca.
O helicóptero passou. A música foi sumindo aos poucos.
Ele viu a jaqueta de aviador largada sobre uma cadeira e viu o vestido dela no chão.
__ Na minha boca.
Os gritos voltaram. Depois uma tosse seca e contínua. E mais gritos. Tosse. E mais nada.
Ela o chupava com  os olhos fechados. Quando ele gozou, ela sorveu-o desesperadamente.
Então ele ajoelhou-se ao lado da cama e colocou-se entre as pernas dela. Ela tinha um cheiro bom ali e ele tocou-a com a língua.
Ela olhava as manchas no teto e nas paredes. O reflexo de ambos no espelho enorme e sujo do outro lado do quarto. Ela tapou os ouvidos com o travesseiro e fechou os olhos. Algo inominável arranhava a janela na chuva.
__ Me faça esquecer __ disse ela. __ Eu não quero lembrar.
Ele ergueu-se e enfiou-se dentro dela, gemendo. Ela puxou-o e apertou-o contra si.
__ Vai, vai.
Ela apertou-o mais. Ele apertou-a.
A janela partiu-se e entrou a chuva escura e entrou aquilo que arranhara o vidro.
__ Não olhe não olhe não olhe não olhe.
A luz piscava. Claro e escuro claro e escuro. A luz apagou-se.
A pintura escorria e sob a tinta nada restou.



SOMBRAS

 



Scooby-Doo e o Nosferatu.

 

ANDROÍDE TARADO E PSICOPATA


Ranxerox, no traço de Tanino Liberatore, sendo concertado por sua namoradinha. Que puta gibi!

 

pretty

tatto

"For something to be beautiful it doesn’t have to be pretty."

— Rei Kawakubo

a frigideira e sade

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Aquela cena de tortura inesquecível no mangá ichi.


SPECTREMAN!


 "Dominantes, às ordens!"

(Puta série foda que eu não perdia por nada.)


 

O HULK DE ROSS


 

O DIÁRIO DE AYA

 
"Ichi Rittoru No Namida" ou ''1 Litro de Lágrimas'' é um drama japonês baseado no Diário de Lágrimas de Aya Kitto, uma garota diagnosticada com uma doença degenerativa incurável aos 15 anos. 
O diário tornou-se um dos maiores exemplos de luta e amor pela vida, ajudando de forma positiva muitas pessoas com graves doenças no Japão. 
Aya, em suas últimas palavras no diário: ''O fato de eu estar viva é uma coisa tão encantadora e maravilhosa que me faz querer viver mais e mais". 

ASSISTA OS OUTROS EPISÓDIOS TAMBÉM AQUI NO YOUTUBE.


THE OSHIMA GANG


David Bowie e Nagisa Oshima, 1983. 

 


 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

BLACK ZOMBIE: ¿Donde Esta Oesterheld?

BLACK ZOMBIE: ¿Donde Esta Oesterheld?: Héctor Germán Oesterheld era um contador de histórias prolífico. O jornalista, romancista e quadrinista argentino construiu uma bibliografi...

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

O CRIME E CASTIGO DE BATMAN

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Apenas algumas páginas.


JIMMY CORRIGAN

O GAROTO MAIS ESPERTO DO MUNDO.

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Seria literatura de primeira grandeza não fosse uma obra perfeita dos quadrinhos.

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Imagens alinhadas perfeitamente com as palavras.

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Escrito por Chris Ware. (Quando vão publicar mais obras suas aqui?)

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Enfim, LEIA.

BEN-HUR

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dirigido por William Wyler.

Cada Oscar foi realmente merecido.

BEN GRIMM P.I.

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Hello Pulp Friends,
I did the above fake cover as (a bit silly) take on Ben Grimm for Comic Twart - inspired by an initial headsketch of Ben with fedora-like and coat on by Ramon Perez, sketch that I inked and transformed in the above cover.
This morning I couldn't help to do another take on this noir Ben Grimm as warmup sketch and the result is the above (quick) splash page that could actually open the story, which is...

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Synopsis:
What if Ben and Reed part ways (not in a good way). After a few years Ben is a PI and (femme fatale) Sue steps in his office. She wants Ben investigating on the murder of Mr Fantastic.
How does that sounds for a NOIR take on the FF? :) Now if only I could find anyone at Marvel who lets me do it ;)
I am reposting these here becuase I think they belong here :)

Cheers,
Francesco Francavilla


DE SOPHIE CRUMB

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Filha de Robert Crumb.

DEADWOOD

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Western sujo. Violento. Amoral. Obra prima.

DIAS EM QUE ME SINTO ASSIM:

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Como um macaco com uma máquina de escrever.

ROTEIRO DE SUNSET BOULEVARD

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SEQUÊNCIA “A”

A-1:

INICIAR o filme com o nome da rua: SUNSET BOULEVARD, pintado em um meio-fio. Na sarjeta há folhas caídas, pedaços de papel, fósforos usados e pontas de cigarro. É de manhã cedo.

A CÂMERA então deixa o nome da rua e MOVE-SE PARA O LESTE, o asfalto cinzento da rua preenche a tela. Conforme a velocidade aumenta para cerca de 60 km/h, vai passando a sinalização de trânsito pintada no chão, setas brancas, avisos de limite de velocidade, tampas de bueiro etc. SOBREPOSTOS a isso aparecem os CRÉDITOS, no mesmo estilo do nome da rua.

Depois do último crédito, TOMADA PANORÂMICA DA PARTE DE TRÁS DE UM VEÍCULO EM MOVIMENTO.

É um carro funerário do condado. A placa tem os seguintes dizeres: CALIFÓRNIA, 1949 – e um número. A moldura metálica em volta da placa está marcada com as palavras LOS ANGELES.

TOMADA PANORÂMICA MAIS ALTA. Ao longo da traseira do carro funerário está escrito INSTITUTO MÉDICO LEGAL.

MUDANÇA GRADUAL PARA:

A-2: O CARRO DO INSTITUTO MÉDICO LEGAL ENTRA EM UM BECO QUE LEVA AO NECROTÉRIO DO CONDADO.

O carro pára em frente a um portão fechado de barras de aço. Na parede há uma placa: BUZINE. O motorista buzina. Um servente abre o portão. O carro passa por ele indo para

A-3: UM TÚNEL e depois para

A-4: UM PEQUENO PÁTIO

O carro funerário vai, de ré, até uma plataforma de descarga e a buzina volta a soar. Dois serventes vestidos de branco saem do necrotério enquanto o motorista e um funcionário sonolento descem do carro funerário.

Os serventes abrem a porta traseira do veículo e retiram uma maca hospitalar com rodas na qual está um cadáver coberto por um cobertor marrom. Só aparecem os pés do cadáver, com meias baratas de algodão e mocassins desgastados. Estão encharcados. PANORÂMICA acompanhando os pés enquanto a maca é levada para uma pequena sala próxima à entrada do edifício e ali é parada.

MUDANÇA GRADUAL PARA:

A-5: MESMO ÂNGULO

O cobertor foi substituído por um lençol. Os pés estão descalços. As mãos de um servente entram na cena e colocam uma etiqueta no dedão do pé esquerdo do cadáver. FOCO NA ETIQUETA. Em caligrafia comum está escrito:

JOSEPH GILLIS

HOMICÍDIO

17/05/49

MUDANÇA GRADUAL PARA:

A-6: O PRÓPRIO NECROTÉRIO

Um servente leva a maca com Gillis morto para uma sala enorme, sem mobília e sem janelas. Encostados nas paredes estão vinte e tantos corpos cobertos por lençóis, dispostos em filas de macas com números grandes pintados na parede acima de cada maca. O servente empurra Gillis para um lugar livre. Além dele, os pés de outros cadáveres estão para fora dos lençóis: pés de homem, de mulher, de criança; dois ou três negros – todos com uma etiqueta pendurada no dedão do pé esquerdo.

O servente sai e apaga as luzes. Por um momento a sala fica na penumbra, então a música torna-se mais viva, um brilho estranho emana dos corpos sob os lençóis. A longa fila de etiquetas balança com o movimento do ar provocado pela ventilação.

(Nota: todas as vozes da cena seguinte soam de modo peculiar e oco).

UMA VOZ DE HOMEM: Não se assuste, há vários de nós aqui. Está tudo bem.

GILLIS: Não estou com medo.

A cabeça dele não se move, mas os olhos se movem devagar em direção à maca próxima a ele. Ali, sob um lençol quase transparente, está um homem gordo de uns 60 anos. Os olhos dele também estão abertos e voltados para Gillis.

HOMEM GORDO: Como é que você morreu?

GILLIS: Que diferença isso faz?

HOMEM GORDO: Morri de ataque cardíaco. Eu vinha morar aqui em Los Angeles. Tinha uma boa aposentadoria do Seattle City Bank e uma linda casinha toda arrumada. O corretor ia me mostrar o abacateiro quando começou.

GILLIS: É uma pena.

HOMEM GORDO: A sorte é que eu não tinha assinado o contrato.

(Pequena pausa).

GILLIS: E eu me afoguei.

(Em uma maca situada em frente à parede oposta está um garoto loiro de onze anos, o seu rosto de criança inchado também observa através do lençol transparente).

GAROTO: Eu também. Eu me afoguei. Perto do píer no Ocean Park. Apostei com Pinky Evans que podia ficar embaixo d´água mais que dois minutos e consegui.

(Sob outro lençol está um negro robusto).

NEGRO: Você saberia dizer se o Satchel Paige venceu o White Sox ontem?

GILLIS: Não, não sei. Morri antes que o jornal da manhã chegasse.

NEGRO: Que maldição! Eu estava trazendo laranjas do San Berdoo, e sintonizei nos resultados do beisebol quando ela bateu em mim – bum! Uma dona num Chevy cupê que ficou todo amassado e parecia uma tartaruga virada. Dava para pensar que eu ia escapar num caminhão de duas toneladas. Ha, ha! Ela saiu se arrastando e acendeu um cigarro e eu fiquei lá, morto no cruzamento, no meio das laranjas.

GAROTO: Eu queria que meus pais viessem me buscar.

(Sob outro lençol está uma mulher de meia-idade).

MULHER: Eles virão. Não se preocupe.

GAROTO: Acha que eles vão ficar bravos comigo?

MULHER: Não, não vão. Eles virão buscá-lo, e vão trazer flores e vão levá-lo para um lugar ensolarado e verde e colocá-lo para dormir para ter lindos sonhos.

HOMEM GORDO: Deveria haver mais salva-vidas, com tantos impostos que pagamos./ Para Gillis: Onde você se afogou? No mar?

GILLIS: Não. Piscina.

HOMEM GORDO: Um homem forte como você?

GILLIS: Bem, fizeram uns buracos em mim. Dois no peito e um na barriga.

HOMEM GORDO: Foi assassinado?

GILLIS: Sim, fui.

(Os olhos do gordo se movem para o canto oposto da sala).

HOMEM GORDO (em tom confidencial): O número 7 também foi assassinado. Cara interessante. Era corretor de apostas, ele me disse. Trabalhava para uma agência do leste. Bastou ele começar a arrecadar apostas para si mesmo e mandaram uns homens de Chicago. Fico pensando se a polícia vai um dia desvendar o crime.

GILLIS: Nunca vão desvendar o meu.

(Com um leve sorrido maldoso): Ia ser engraçado ficar aqui como um quebra-cabeça embaralhado, com a polícia e os colunistas de Hollywood tentando encaixar as peças erradas.

HOMEM GORDO: Hollywood? Você é do cinema?

GILLIS: Sim, cheguei em 45, porque queria ter uma piscina. E no fim eu consegui uma. Só que tinha sangue nela…

(Billy Wilder, D. M. Marshman Jr. e Charless Brackett, 1949)

Vi no Análise Indiscreta. E falando nisso, cara, que ótimo blog sobre cinema. Recomendadíssimo.

ALGO ALÉM

Sergio-corbucci-banner

Em meus westerns há sempre algo além do aventuresco e do espetacular, “Django” era um filme sobre racismo e intolerância, “Navajo Joe” era contra o assassinato em massa dos índios, “Gli Specialisti” era um filme contra a opressão das classes ricas. Era um tempo em que os hippies estavam na moda e então eu decidi colocar alguns hippies fumando cannabis na cena final... Também tinha uma cena em que um dos personagens queimava dinheiro e isso irritou muitas pessoas.

Sergio Corbucci


PERFECT BLUE

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Dirigido por Satoshi Kon.

DEIXE ELA ENTRAR

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O OURO DE MACKENNA

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De J. Lee Thompson.

PIERROT

José Marcelo

enfaixada

A mulher calou-se. Apertava o volante com tanta força que seus dedos estavam brancos demais, como mármore gelado.

__ O que você vai fazer? __ perguntou ela.

O homem desfigurado observava a casa nua através do pára-brisa imundo. Ele pegou a arma no porta-luvas e abriu a porta do carro com a mão enfaixada, manchada de sangue, trêmula. Saiu andando devagar pela estrada enlameada.

A mulher também desceu.

__ Isso vai dar em nada, a não ser dor __ disse ela.

A floresta à beira da estrada parecia uma mortalha, silenciosa e exalando um odor carregado, enquanto ambos se aproximavam da casa.

A mulher disse:

__ Vamos embora.

__ Não.

__ Não? Por que não?

__ Não. Só isso. Não.

__ Você quer morrer?

O homem olhou-a demoradamente, mas sem diminuir o passo, para que ela pudesse ver as cicatrizes, as marcas, a dor. Ela não pareceu abalar-se:

__ Isso não é motivo.

__ É o suficiente.

__ Eu te peço. Não faça isso. Não.

__

__ Você não tem medo?

__ Nada.

__ Como?

__ Antes eu sentia medo, raiva, vontade de chorar, um monte de coisas.  Sentimentos. Agora, agora eu não sinto nada.

__ Deixa pra lá, por favor, deixa pra lá. Esquece. Não faz isso. Eu te peço.

__ Você devia ter ficado no carro.

Ela parou. Começara a chover, uma chuva fina e fria. A chuva pesou sobre seus cabelos e ela ficou olhando o homem desfigurado entrar na casa.

Fechou os olhos e esperou pelo barulho dos tiros.